sábado, 29 de maio de 2010

A democracia virtual dos internautas

Ler na internet, comentários das pessoas sobre os vários temas que rolam na rede, pode ser algo muito divertido e permite a observação do sempre saudável exercício de democracia. A opinião dos internautas nos fornece uma amostragem do que vai pelas cabeças, do que se pensa nesta época contemporânea. Praticamente ainda estamos no início do uso desse moderno meio de comunicação, especialmente no Brasil, onde o acesso ainda é restrito às pessoas que têm melhores condições financeiras para a utilização da rede mundial de computadores. E também pelas evidentes falhas das tecnologias já usadas para a navegação. Ou seja, ainda há por aí muitas zonas de “sombras” e tais sombras não se limitam somente as falhas tecnológicas.
No entanto, vamos deixar essas sombras de lado e vamos rir, concordar ou discordar dos comentários dos internautas na internet.
Pelos comentários a gente também pode constatar a grande transformação dos costumes e comportamentos por que passou a sociedade desde o advento da rede. Para os mais velhos, esta visão é evidente e imediata. E não se trata aqui de dizer que antes era melhor e que agora ficou pior. A verdade é que tudo mudou e mudou rapidamente. Há coisas que melhoraram e há coisas que pioraram, sem querer aqui pré-julgar ou julgar qualquer coisa. Afinal, quem está vivo, tenha a idade que tiver, está vivendo agora e tem que encarar tudo de frente. Se é bom ou se é ruim, isso é outra história.
O fato é que a internet é a grande enciclopédia moderna e dinâmica. Por intermédio dela, a gente pode saber, pesquisar, todo e qualquer assunto que se pode imaginar. Por ela, ficamos imediatamente a saber sobre qualquer fato, qualquer coisa que se diga, aqui por perto ou lá do outro lado do mundo. E, como todo mundo sabe, de modo veloz. Antes, quem caia na rede era peixe, agora cair na rede pode ser bom, mas pode ser também um “abacaxi”.
A internet pode ser usada para o bem e para o mal, aliás, como qualquer outra coisa neste mundo. E nos comentários feitos pelos internautas, podemos ver isso claramente. Pega-se qualquer assunto e logo vemos uma nova tendência que surge. A tendência do “botar a boca no trombone” virtualmente. Opiniões verbais, alto e bom som, são raramente audíveis em rodas de pessoas ou mesmo em círculo de amigos. Todavia, se surge assunto polêmico na rede, aí o povo coloca para fora todas as opiniões possíveis e muitas vezes inimagináveis. O que vai acontecer daqui a alguns anos, em futuro talvez breve, é impossível mesmo de se prever ou de se controlar.
Ao mesmo tempo em que isso ocorre pela rede, essa enxurrada de opiniões diversas sobre isso ou aquilo, podemos observar também algumas pequenas mudanças ou transformações por que vai passando a sociedade, de modo lento, gradual e quase sempre sutil. Uma delas é a própria transformação da linguagem. No caso do Brasil é a grande modificação da língua portuguesa, apesar dos esforços dos intelectuais e literatos, que, recentemente, introduziram uma nova mudança no idioma, suprimindo acentos, tremas, introduzindo novos modos de escrita dos verbetes, etc. Na rede e vamos aqui nos prender apenas aos sites de língua portuguesa, vemos um grande número erros de grafia de palavras do idioma pátrio. Agora, quando vamos ler os comentários de internautas, a incrível transformação do português está gritante. Há momentos em que não há outro jeito, a não ser rir bastante, pois o conteúdo já hilariante de certos comentários, associado aos erros de grafia, certamente nos conduzem a gargalhadas incontroláveis. Há pessoas que já começam a se perguntar o porquê tiveram que aprender a forma correta de falar e escrever a língua portuguesa.
Pesquisar este aspecto na internet pode nos dar a idéia do grau atual de conhecimento de muitos dos nossos irmãos de pátria. Leva-nos possivelmente a repensar ou pensar pelo menos em como anda o ensino no Brasil. Aumentou-se o número de escolas e de alunos? Mas, e a qualidade do ensino? Outra coisa também a se levar em conta é que pela internet vai surgindo devagar ou rapidamente (depende do ângulo que se olha), uma linguagem cifrada, abreviada, tipo o “não” é “naum”, “abraços” é “abs”, “cara” é “kra”, e por aí vai.
O fato é uma constatação. A constatação de uma transformação do mundo, da sociedade, etc. E não apenas porque as pessoas estão escrevendo ou falando de outro modo, ou porque não sabem se expressar de outro modo. Mas trata-se de uma constatação de que ocorre velozmente uma grande mudança no jeito de ser de uma época. E aí dirão alguns que estamos em pleno século 21. Claro, óbvio, todos estamos. E deixando de lado a questão da linguagem modificada, aviltada, transformada, ou de um semi-analfabetismo generalizado, vamos pensar somente nas mudanças dos valores. Nos comentários dos internautas há de tudo. Preconceitos acirrados sobre determinados assuntos, aberturas extremas para outros, falta de respeito, falta de educação, comentários sérios, respeitosos, enfim, acontece de tudo. E de tudo que acontece, a gente consegue ver uma coisa, principalmente quando os comentários se referem à atitude de alguém e quando esse alguém é pessoa notória ou pública.
Nesse caso, a opinião dos internautas acaba demonstrando que, apesar de tudo se transformar de época para época e que o foi ontem não é mais hoje, ainda persiste a mania do ser humano de gostar de saber da vida alheia e dar palpites nela, esquecendo-se da sua própria. Resumindo, enquanto se fofoca a vida dos outros, a nossa vai passando e muita coisa fica sem solução. E os países, obviamente formados por pessoas, acabam seguindo o mesmo caminho. E metem o bedelho nas questões alheias, esquecendo-se dos seus problemas internos, por mais simples que sejam nas velhas áreas da educação, do transporte, do trabalho e da saúde.