Assim como cada indivíduo, cada país também tem seu modo próprio de existir. Claro que não se pode pensar igual. As diferenças existem e devem ser respeitadas, embora com aquele limite que não incomode e nem interfira na diferença do outro. Seria o “cada um na sua” com o devido respeito às regras básicas instituídas. E para isso, teria que haver um mínimo de organização, de padronização cultural no caso de uma sociedade.
No Brasil, por exemplo, já faz parte da cultura, o comportamento, no que diz respeito ao início verdadeiro do ano de trabalho, exceção à regra no caso de meia dúzia de gatos pingados. Chegou dezembro, o ano pára. Vem o Natal, as férias de muitos e depois o Carnaval, a verdadeira explosão da alegria do povo. Talvez a única verdadeira alegria por alguns dias, no universo de doze meses. Talvez a extravasão do grito contido, da sátira, da ironia. O grito por tanta coisa que não deveria acontecer no meio social. Um verdadeiro Carnaval antes que se retorne à realidade do dia a dia.
Com isso, estamos perto, poderíamos dizer, de “começar” o ano de 2009. Para quem se deu ou se dá ao trabalho de observar os acontecimentos, neste janeiro e agora no fevereiro que está terminando, tudo se repetiu. Não houve fato acontecido que tivesse alterado o rumo da história. Fazendo-se uma retrospectiva do noticiário desses meses, a mesma cascata de coisas desagradáveis e que tornam a vida do cidadão insegura e de baixa qualidade. Benefícios para a população, só aqueles que são pagos aos aposentados do INSS e que até agora ninguém explicou porque são denominados assim. “Benefícios”? O sujeito paga a vida toda para ter uma aposentadoria irrisória! Volta-se ao velho chavão de que, educação para todos, transporte coletivo digno e leitos nos hospitais públicos para todos os que pagam por isso durante a vida inteira, deveriam ser os verdadeiros benefícios, entre outros, para a população. Mas, não é bem assim...
Como bem disse o professor de ética e filosofia da Unicamp, Roberto Romano, em uma entrevista recente concedida à TV UOL (aquele provedor da internet), “na política, a sensação é de Carnaval o ano inteiro”. A entrevista está lá para quem quiser conferir. Um vídeo interessante, certamente de alguém experiente e que se dedica ao estudo da sociedade brasileira e ao comportamento do ser humano em geral. O acesso não é difícil dentro da página principal do UOL na rede. Coloca-se o nome do professor na busca e chega-se ao vídeo...
Resumindo bastante o que o professor disse na entrevista, o carnaval aqui é permanente. O carnaval do dinheiro público, o carnaval das repetições de fatos, das improbidades, do gasto indiscriminado do dinheiro público, da falta de respeito ao cidadão, das manipulações do poder, o carnaval das oligarquias, daqueles que somente deixam o poder dentro de um caixão.
Enquanto a entrevista desse professor permanece arquivada na rede, vamos lembrar agora de outros carnavais. De carnavais particulares, como o daquela advogada pernambucana que agitou a tranquila e agitada Suíça, com a denúncia de que teria sido vítima dos skinheads locais. E que depois tivemos que vergonhosamente voltar atrás. Deveríamos mesmo pedir desculpas àquele país. Até o Lula se manifestou e cobrou providências ao governo suíço. Mas graças a Deus vieram os festejos do carnaval brasileiro. A festa propriamente dita. E o fato silenciou, não sabemos que final aconteceu com a moça.
Nesse caso, o governo brasileiro não foi alertado ou se esqueceu de alguns detalhes históricos. Do Jean Charles que foi comprovadamente assassinado em Londres anos atrás e que, na ocasião, não houve grandes cobranças enérgicas por parte daqui. Que muita gente inocente foi barrada em aeroportos da Europa, passou por constrangimentos e voltou com prejuízos dos gastos com a viagem interrompida. E não houve cobranças tão fortes como no caso provocado por essa advogada pernambucana. Ora, por quê? A pergunta fica para quem quiser responder ou explicar.
O governo parece que também se esqueceu ou não foi alertado para o caso de inúmeros estrangeiros que chegam ao Brasil e são mortos, violentados, assaltados em nossas cidades. Só para exemplificar, o caso do casal de franceses que quase foi massacrado, há pouco tempo, em assalto nas cercanias da ilha de Itaparica na Bahia, dentro de um barco. Ou o jovem italiano atropelado e morto recentemente na Avenida Atlântica, no Rio, quando defendia sua família de um terrível assalto na praia de Copacabana. Os casos dias atrás e ontem, em pleno Carnaval brasileiro, de inúmeros estrangeiros de várias nacionalidades que foram assaltados e por sorte não mortos em nossas grandes metrópoles.
Será que somos mesmo um Carnaval eterno? Aquele Carnaval falado pelo professor Romano em sua entrevista? Um Carnaval de vergonhas e constrangimentos lá fora e aqui dentro?
Por hoje chega, vamos tomar cerveja que talvez seja melhor. Aliás, hoje ainda é Carnaval de verdade. Alegrias!
O dia a dia de todos nós. Os fatos que ocorrem. O exercício da cidadania. A qualidade das relações humanas. Educação, que gera respeito para que o cidadão exija seus direitos e cumpra seus deveres.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Trombando com a reforma
Ora, “essa vida de todos os dias”! Poderia ser menos complicada, mais simples, não fossem algumas invenções dos homens, para aumentar a preocupação dos comuns seres mortais.
Já não bastam as dificuldades em se arranjar emprego, a falta de dinheiro para se pagar as contas mensais ou os créditos em excesso, o caos urbano, o caos nos hospitais, a falta de transporte público adequado, e outras questões? Arranjam para nós, agora, uma nova reforma ortográfica, feita, dizem, com o objetivo de unificar o idioma português em todos os países que falam esta língua.
Com o perdão dos senhores doutores em língua portuguesa e de suas justificativas para a unificação do idioma, qual seria de fato a suma importância da referida medida? Ainda não se ouviu com clareza, alguém explicar com convencimento a necessidade de tal reforma. Afinal, até então, sempre conseguimos entender muito bem (quem sabe ler, claro!) a leitura de um texto escrito no português de Portugal, com ressalvas para algumas palavras diferentes e com significado específico daquele país. Afinal, a grande massa populacional brasileira não vivia lendo textos em português dos outros países irmãos de idioma, afastados por milhares de quilômetros de nós, brasileiros. E muito menos nunca mantivemos toneladas de correspondências com os habitantes desses países de semelhança lingüística. Que essa reforma então ficasse somente no topo das relações internacionais ou para o intercâmbio cultural das elites.
Mas enfim, alguém inventou ou decidiu que tinha que se unificar e a coisa aconteceu, para o desespero de milhares, talvez poucos milhões que já sabiam escrever, de forma correta ou quase que correta, o português brasileiro até noutro dia. “Começar de novo”, tal qual o título da canção de Ivan Lins.
Certamente, pelas regras atuais, este texto já está cheio de erros ortográficos. Já que “idéia”, não se escreve mais com acento. Agora será “ideia”, tal como “assembleia”, embora a pronúncia continuará sendo aberta e não “idêia” ou “assemblêia”. Se não foi para fazer uma puta confusão na cabeça dos atuais estudantes em estágio mais avançado ou na de quem já sabia escrever, foi para quê essa nova reforma? Há que se pensar que a resposta é difícil, pois, como já foi dito, não houve quem desse uma convincente explicação da necessidade de tal reboliço no idioma pátrio.
De concreto, temos até 2012 para aprendermos a escrever direito, tal como colocando dois erres em “autorretrato”, que até então se escrevia auto-retrato. E mais uma série de regrinhas que teremos que engolir. Ou voltaremos para a escola, ou teremos que comprar novos dicionários, gramáticas e todos os apetrechos necessários ao novo aprendizado. E haja dinheiro para acompanhar essa reforma da escrita, embora quem for a Portugal terá que compreender que “bestial” não é bem aquilo que entendemos aqui no Brasil, que “rapariga” lá é outra coisa, ou “bicha” não é aquilo que dizemos aqui no Brasil, por exemplo.
Mas, vamos em frente para ver no que vai dar. E com certeza vai dar naquilo que sempre deu. Ou seja, lá pra depois de 2012, a maioria de nós terá sempre dúvidas quanto a escrever esta ou aquela palavra em português. Os professores de português certamente vão se escabelar, os alunos se desesperarão nas provas e vestibulares, mesmo com o prazo de carência dado para a efetivação da reforma. E os editores de livros, gramáticas e dicionários irão faturar com as novas vendas.
Por acaso alguém já ouviu falar que o idioma inglês passou por reforma ortográfica? Isto para não citar o espanhol, que também é muito falado em várias partes do mundo. Muitos desses povos, que falam essas línguas, devem ter coisas mais importantes com o que se preocupar.
Bem, com reformas à parte, vamos agora entrar no Brasil do dia a dia. No Brasil da rua, da internet, do povão que luta para a sobrevivência diária. Qual vai ser a importância dessa reforma ortográfica unificada para esses que são a maioria do País? Se alguém souber a resposta, por favor, comente, fale, explique e, desde já, mil perdões, pela possível ignorância deste texto.
Quem tem acesso à internet e a usa em conversas e bate-papos, sabe que já foi criada uma ortografia específica para o português usado na rede. Tudo cifrado, tudo abreviado, verdadeiras expressões idiomáticas estranhas, que os jovens, principalmente, já se habituaram a escrever em sua comunicação. E que devem deixar chocados os senhores doutores da língua portuguesa.
Afora isso, Brasil adentro, os “pobremas” irão continuar na boca do povo. Que falarão, mas nunca saberão nem como se escreve essa palavra esquisita para nós, privilegiados – “pobrema”. O jogo do “framengo” será sempre assim por muito tempo. Existe um moço nesse interior brasileiro, que toma conta de uma chácara e cuja linguagem é surpreendente, mesmo sui-generis. Para ele, poço artesiano é poço “anestesiano”. Película no vidro dos carros é “pelica”, a marca Fiat é “Fit”, época é “épa”... E por aí vai. Tentem explicar essa nova reforma ortográfica para ele, a unificação da escrita do português e onde fica pelo menos Portugal.
Desculpem a ousadia, mas essa reforma ortográfica provavelmente não nos trará nada de concreto em termos práticos. Provavelmente não provocará as reformas políticas necessárias, as sociais, as reformas em nosso sistema judiciário, as reformas da maneira do ensino como um todo, e, sobretudo, não alterará a mentalidade reinante e muito menos o comportamento do homem brasileiro no que toca ao exercício pleno da cidadania. E mais, não vai alterar o teor dos discursos demagógicos e chatos de nossos políticos. Essa reforma não vai ensinar nem disseminar o respeito que deve haver entre os membros de uma sociedade como a nossa. Poderá, no mínimo, causar estresse, àqueles que se preocupam em escrever corretamente o idioma nacional.
Já não bastam as dificuldades em se arranjar emprego, a falta de dinheiro para se pagar as contas mensais ou os créditos em excesso, o caos urbano, o caos nos hospitais, a falta de transporte público adequado, e outras questões? Arranjam para nós, agora, uma nova reforma ortográfica, feita, dizem, com o objetivo de unificar o idioma português em todos os países que falam esta língua.
Com o perdão dos senhores doutores em língua portuguesa e de suas justificativas para a unificação do idioma, qual seria de fato a suma importância da referida medida? Ainda não se ouviu com clareza, alguém explicar com convencimento a necessidade de tal reforma. Afinal, até então, sempre conseguimos entender muito bem (quem sabe ler, claro!) a leitura de um texto escrito no português de Portugal, com ressalvas para algumas palavras diferentes e com significado específico daquele país. Afinal, a grande massa populacional brasileira não vivia lendo textos em português dos outros países irmãos de idioma, afastados por milhares de quilômetros de nós, brasileiros. E muito menos nunca mantivemos toneladas de correspondências com os habitantes desses países de semelhança lingüística. Que essa reforma então ficasse somente no topo das relações internacionais ou para o intercâmbio cultural das elites.
Mas enfim, alguém inventou ou decidiu que tinha que se unificar e a coisa aconteceu, para o desespero de milhares, talvez poucos milhões que já sabiam escrever, de forma correta ou quase que correta, o português brasileiro até noutro dia. “Começar de novo”, tal qual o título da canção de Ivan Lins.
Certamente, pelas regras atuais, este texto já está cheio de erros ortográficos. Já que “idéia”, não se escreve mais com acento. Agora será “ideia”, tal como “assembleia”, embora a pronúncia continuará sendo aberta e não “idêia” ou “assemblêia”. Se não foi para fazer uma puta confusão na cabeça dos atuais estudantes em estágio mais avançado ou na de quem já sabia escrever, foi para quê essa nova reforma? Há que se pensar que a resposta é difícil, pois, como já foi dito, não houve quem desse uma convincente explicação da necessidade de tal reboliço no idioma pátrio.
De concreto, temos até 2012 para aprendermos a escrever direito, tal como colocando dois erres em “autorretrato”, que até então se escrevia auto-retrato. E mais uma série de regrinhas que teremos que engolir. Ou voltaremos para a escola, ou teremos que comprar novos dicionários, gramáticas e todos os apetrechos necessários ao novo aprendizado. E haja dinheiro para acompanhar essa reforma da escrita, embora quem for a Portugal terá que compreender que “bestial” não é bem aquilo que entendemos aqui no Brasil, que “rapariga” lá é outra coisa, ou “bicha” não é aquilo que dizemos aqui no Brasil, por exemplo.
Mas, vamos em frente para ver no que vai dar. E com certeza vai dar naquilo que sempre deu. Ou seja, lá pra depois de 2012, a maioria de nós terá sempre dúvidas quanto a escrever esta ou aquela palavra em português. Os professores de português certamente vão se escabelar, os alunos se desesperarão nas provas e vestibulares, mesmo com o prazo de carência dado para a efetivação da reforma. E os editores de livros, gramáticas e dicionários irão faturar com as novas vendas.
Por acaso alguém já ouviu falar que o idioma inglês passou por reforma ortográfica? Isto para não citar o espanhol, que também é muito falado em várias partes do mundo. Muitos desses povos, que falam essas línguas, devem ter coisas mais importantes com o que se preocupar.
Bem, com reformas à parte, vamos agora entrar no Brasil do dia a dia. No Brasil da rua, da internet, do povão que luta para a sobrevivência diária. Qual vai ser a importância dessa reforma ortográfica unificada para esses que são a maioria do País? Se alguém souber a resposta, por favor, comente, fale, explique e, desde já, mil perdões, pela possível ignorância deste texto.
Quem tem acesso à internet e a usa em conversas e bate-papos, sabe que já foi criada uma ortografia específica para o português usado na rede. Tudo cifrado, tudo abreviado, verdadeiras expressões idiomáticas estranhas, que os jovens, principalmente, já se habituaram a escrever em sua comunicação. E que devem deixar chocados os senhores doutores da língua portuguesa.
Afora isso, Brasil adentro, os “pobremas” irão continuar na boca do povo. Que falarão, mas nunca saberão nem como se escreve essa palavra esquisita para nós, privilegiados – “pobrema”. O jogo do “framengo” será sempre assim por muito tempo. Existe um moço nesse interior brasileiro, que toma conta de uma chácara e cuja linguagem é surpreendente, mesmo sui-generis. Para ele, poço artesiano é poço “anestesiano”. Película no vidro dos carros é “pelica”, a marca Fiat é “Fit”, época é “épa”... E por aí vai. Tentem explicar essa nova reforma ortográfica para ele, a unificação da escrita do português e onde fica pelo menos Portugal.
Desculpem a ousadia, mas essa reforma ortográfica provavelmente não nos trará nada de concreto em termos práticos. Provavelmente não provocará as reformas políticas necessárias, as sociais, as reformas em nosso sistema judiciário, as reformas da maneira do ensino como um todo, e, sobretudo, não alterará a mentalidade reinante e muito menos o comportamento do homem brasileiro no que toca ao exercício pleno da cidadania. E mais, não vai alterar o teor dos discursos demagógicos e chatos de nossos políticos. Essa reforma não vai ensinar nem disseminar o respeito que deve haver entre os membros de uma sociedade como a nossa. Poderá, no mínimo, causar estresse, àqueles que se preocupam em escrever corretamente o idioma nacional.
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