terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Carnaval o ano inteiro

Assim como cada indivíduo, cada país também tem seu modo próprio de existir. Claro que não se pode pensar igual. As diferenças existem e devem ser respeitadas, embora com aquele limite que não incomode e nem interfira na diferença do outro. Seria o “cada um na sua” com o devido respeito às regras básicas instituídas. E para isso, teria que haver um mínimo de organização, de padronização cultural no caso de uma sociedade.
No Brasil, por exemplo, já faz parte da cultura, o comportamento, no que diz respeito ao início verdadeiro do ano de trabalho, exceção à regra no caso de meia dúzia de gatos pingados. Chegou dezembro, o ano pára. Vem o Natal, as férias de muitos e depois o Carnaval, a verdadeira explosão da alegria do povo. Talvez a única verdadeira alegria por alguns dias, no universo de doze meses. Talvez a extravasão do grito contido, da sátira, da ironia. O grito por tanta coisa que não deveria acontecer no meio social. Um verdadeiro Carnaval antes que se retorne à realidade do dia a dia.
Com isso, estamos perto, poderíamos dizer, de “começar” o ano de 2009. Para quem se deu ou se dá ao trabalho de observar os acontecimentos, neste janeiro e agora no fevereiro que está terminando, tudo se repetiu. Não houve fato acontecido que tivesse alterado o rumo da história. Fazendo-se uma retrospectiva do noticiário desses meses, a mesma cascata de coisas desagradáveis e que tornam a vida do cidadão insegura e de baixa qualidade. Benefícios para a população, só aqueles que são pagos aos aposentados do INSS e que até agora ninguém explicou porque são denominados assim. “Benefícios”? O sujeito paga a vida toda para ter uma aposentadoria irrisória! Volta-se ao velho chavão de que, educação para todos, transporte coletivo digno e leitos nos hospitais públicos para todos os que pagam por isso durante a vida inteira, deveriam ser os verdadeiros benefícios, entre outros, para a população. Mas, não é bem assim...
Como bem disse o professor de ética e filosofia da Unicamp, Roberto Romano, em uma entrevista recente concedida à TV UOL (aquele provedor da internet), “na política, a sensação é de Carnaval o ano inteiro”. A entrevista está lá para quem quiser conferir. Um vídeo interessante, certamente de alguém experiente e que se dedica ao estudo da sociedade brasileira e ao comportamento do ser humano em geral. O acesso não é difícil dentro da página principal do UOL na rede. Coloca-se o nome do professor na busca e chega-se ao vídeo...
Resumindo bastante o que o professor disse na entrevista, o carnaval aqui é permanente. O carnaval do dinheiro público, o carnaval das repetições de fatos, das improbidades, do gasto indiscriminado do dinheiro público, da falta de respeito ao cidadão, das manipulações do poder, o carnaval das oligarquias, daqueles que somente deixam o poder dentro de um caixão.
Enquanto a entrevista desse professor permanece arquivada na rede, vamos lembrar agora de outros carnavais. De carnavais particulares, como o daquela advogada pernambucana que agitou a tranquila e agitada Suíça, com a denúncia de que teria sido vítima dos skinheads locais. E que depois tivemos que vergonhosamente voltar atrás. Deveríamos mesmo pedir desculpas àquele país. Até o Lula se manifestou e cobrou providências ao governo suíço. Mas graças a Deus vieram os festejos do carnaval brasileiro. A festa propriamente dita. E o fato silenciou, não sabemos que final aconteceu com a moça.
Nesse caso, o governo brasileiro não foi alertado ou se esqueceu de alguns detalhes históricos. Do Jean Charles que foi comprovadamente assassinado em Londres anos atrás e que, na ocasião, não houve grandes cobranças enérgicas por parte daqui. Que muita gente inocente foi barrada em aeroportos da Europa, passou por constrangimentos e voltou com prejuízos dos gastos com a viagem interrompida. E não houve cobranças tão fortes como no caso provocado por essa advogada pernambucana. Ora, por quê? A pergunta fica para quem quiser responder ou explicar.
O governo parece que também se esqueceu ou não foi alertado para o caso de inúmeros estrangeiros que chegam ao Brasil e são mortos, violentados, assaltados em nossas cidades. Só para exemplificar, o caso do casal de franceses que quase foi massacrado, há pouco tempo, em assalto nas cercanias da ilha de Itaparica na Bahia, dentro de um barco. Ou o jovem italiano atropelado e morto recentemente na Avenida Atlântica, no Rio, quando defendia sua família de um terrível assalto na praia de Copacabana. Os casos dias atrás e ontem, em pleno Carnaval brasileiro, de inúmeros estrangeiros de várias nacionalidades que foram assaltados e por sorte não mortos em nossas grandes metrópoles.
Será que somos mesmo um Carnaval eterno? Aquele Carnaval falado pelo professor Romano em sua entrevista? Um Carnaval de vergonhas e constrangimentos lá fora e aqui dentro?
Por hoje chega, vamos tomar cerveja que talvez seja melhor. Aliás, hoje ainda é Carnaval de verdade. Alegrias!

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