Há muitos anos, todos os anos, mais ou menos a essa mesma época, os jornais falam e muita gente comenta que nós, brasileiros, trabalhamos cinco meses durante um ano, somente para o pagamento de impostos. Especialistas no assunto afirmam que 40 por cento do nosso salário vão para os tributos.
Aproveitando o tema, que voltou aos nossos ouvidos nos últimos dias, vamos confirmar que seja isso que acontece com a nossa carteira anualmente. Todo mundo, quando acha um tempo para pensar no assunto, acha terrível. Afinal, quem gosta de ver seus suados reais saírem assim, correndo, na compulsão, para os diversos cofres do governo. E pior, para se transformarem em pequenos resultados. E se não é assim, algo então deve estar mesmo muito errado, pois nunca há dinheiro para as obras de infraestrutura de transportes no País – e isso é uma história bem velhinha, já se tornou lenda. É também quase eterna a falta de recursos para visíveis melhorias dos hospitais públicos, para a educação geral, para tudo que se refere à concreta melhoria da qualidade de vida do povo. Para o setor educacional, a coisa já virou um verdadeiro mito. A quase centenária história de sempre: salários baixos e desvalorização dos professores, estes amedrontados e inseguros nas salas de aulas onde alunos podem ameaçá-los a qualquer instante até com armas
Bom, mas voltando aos famigerados “impostos anuais”, a coisa não fica somente neles. Dos 60 por cento que sobram do salário de alguns pouquíssimos milhões de privilegiados (somos quase duzentos milhões de habitantes no Brasil), ainda há o que gastar mais e mais por conta da falta de serviços condizentes com a qualidade de vida de um povo desenvolvido. Listemos apenas alguns. Há que se pagar um plano de saúde, pois o SUS – o Sistema Único de Saúde (que deve ser quase o Único no mundo que funciona assim, daquele jeito), “é coisa de gente pobre, de miserável, que está acostumada com esse negócio de fila às duas da manhã ou a madrugada inteira”. E aí surgiram os famigerados “planos”, supervisionados e regulados pelo Governo. Funcionam? Digamos, mais ou menos. Na hora H é que se vê. Aí podem aparecer aquelas letras pequeninas, contendo frases traiçoeiras que ninguém quase lê (mania de brasileiro, até Presidente já assinou documento sem ler), mas que arrancam mais uns reaizinhos do seu bolso.
Há o seguro total do automóvel, sem contar o obrigatório. É bom lembrar que não há policiamento nas ruas, os estacionamentos são descontrolados, seu carro pode ser roubado. Em geral, não há guardas de trânsito nas áreas urbanas. Acontecem de vez em quando algumas blitz que a gente não entende, incertas. Seu carro também pode levar uma porrada de algum irresponsável bêbado, que por se achar melhor dos que os outros mortais, não está nem aí para essa lei que foi sancionada recentemente para coibir o álcool ao se usar o volante.
Mas a coisa não fica só nisso. Você tem que pagar taxas extras de condomínio para aumentar cada vez mais a segurança da sua moradia. Há bandidos demais soltos por aí, observando a sua vida. Tem menores bandidos, perigosos, que são pequenos e sofridos socialmente, coitadinhos. A única responsabilidade deles é votar nos seus candidatos preferidos, quando são mais crescidinhos, maiores de 16.
Há outras coisas a se pagar com os 60 por cento que sobram do seu salário, para se ter uma relativa melhoria de qualidade de vida, cobrindo obviamente coisas que deveriam naturalmente existir em decorrência dos serviços públicos.
Pois é, esses poucos milhões de privilegiados, como falado anteriormente, ainda têm como pagar, seja porque fazem um planejamento de vida melhor, seja porque vivem mergulhados no ilusório e fantasioso cheque especial ou em cartões de crédito, seja porque recebem “benefícios” extras em troca não sabemos de quê. Neste último caso, aquelas coisas que obviamente ninguém vai confessar, do tipo mensalões, etc.
Não foram mencionadas aqui as coisas básicas. O alimento diário, o aluguel, ou a prestação da casa própria, a conta de luz, telefone e por aí vai.
Quem sabe, por isso tudo, um ex-ministro de Estado falou, há muitos anos, sobre um tal de “milagre brasileiro”. Talvez a afirmativa dele tenha sido tão etérea, tão sutil, que ninguém captou na ocasião o seu verdadeiro sentido. O MILAGRE. Esse Milagre que o brasileiro vive diariamente e que, ao final de cada dia, como oração, tem que agradecer por ter sobrevivido. Com ou sem estresse.
E assim, aos primeiros meses de 2010, 2011... E CACETADA, continuaremos a refletir, reclamar, gritar, gritar, GRITAR, contra esses impostos que pagamos e que, ao que tudo indica, boa parte deve cair num sumidouro dos cofres públicos. Provavelmente, num País como este aqui, o processo seja esse mesmo. Gritar, gritar, gritar, até que os surdos possam ouvir.
Só não poderemos seguir o caminho daquele velho, antigo, quase esquecido, ditado da sabedoria popular: “CÃO QUE LADRA, NÃO MORDE”. O que certamente deve significar que o cachorro que morde, morde sem aviso. Ele observa, cala e avança num ato que denota a estratégica inteligência canina. Viva o cão!