quinta-feira, 16 de julho de 2009

A irresistível pizzaria brasileira

A afirmativa do presidente Lula, de que os senadores da oposição são “bons pizzaiollos”, estampada ontem, dia 15, nos jornais, no que diz respeito à criação de uma comissão parlamentar de inquérito sobre a Petrobrás, demonstra o descrédito geral hoje em voga com relação à dita Casa do Povo – o Congresso Nacional. Ora, mesmo sendo eles da oposição ao governo, o fato aponta que, ninguém mais leva nada a sério quando se trata de políticos, de comissões parlamentares, ou pelo menos parece estar sendo assim. Até o Presidente da República já sabe com certeza de que tudo acaba mesmo em pizza. Em resumo, nem um pouco de receio, nenhuma preocupação quanto ao resultado dos trabalhos dessas comissões. É como se todos estivessem juntos, falando, gritando, bebendo e comendo muita pizza numa enorme pizzaria. Ou seja, ao final tudo acaba dando certo. Para os interessados, obviamente. A massa e o recheio da pizza sempre no ponto, perfeitos. Uma pizza estratégica.

Num momento desses, não há como deixar de lembrar a célebre frase atribuída ao general Charles de Gaulle, de que “o Brasil não é um país sério”, dita muitos anos atrás pelo ex-presidente francês por ocasião de uma crise política (das lagostas) entre os dois países durante os anos 60. De Gaulle morreu em 1970 e parece ter negado até a morte a autoria da tal frase. Todavia, muitos brasileiros, principalmente os que têm vergonha na cara, não esqueceram a tal frase, que volta e meia, como agora, sempre é lembrada e repetida quando acontecem essas sucessivas crises internas no Brasil ou quando ocorrem fatos políticos inexplicáveis. O fato é que De Gaulle morreu há quase 40 anos, virou nome de um dos aeroportos internacionais de Paris, mas a frase, dita ou não, virou quase um slogan por aqui, mesmo que esquisito.

Não bastando a frase do presidente francês, anos depois nosso músico Renato Russo, já falecido, criou a música intitulada “Que País é este?”... E assim fomos passando os anos, mudamos de século, chegamos quase ao final da primeira década deste novo século, mas, aqueles que têm esperança de um País verdadeiramente melhor, que se envergonham de tanta pouca vergonha, que continuam a engolir pizzas estragadas, pois ainda não apareceu uma coisa melhor, certamente continuam com aquelas frases martelando na cabeça.

Se o país é sério ou que país é este, já nem importa mais, pensando bem. É bem mais uma questão de vergonha do que um jogo de palavras. Talvez baste apenas olhar para a nossa política interna, para o procedimento dos nossos políticos. Realmente, o conceito deles não está em alta. Está despencando em cima das massas de pizzas, mas a política finge que não vê essas coisas, que até a frase presidencial mostrou enxergar com clareza.

Parece que estamos vivendo uma era de descrédito geral. Acreditar em quê? Em Papai Noel? Em cegonhas? Em eleições? Em partidos políticos? Seria também o caso de se dizer com adaptações, aquela velha máxima brasileira: já não se faz mais Congressos como antigamente! Mas será que antigamente...? Afinal, como funcionava antigamente? No antigamente foi que tudo começou, misturou-se, transformou-se, mas parece que nada mudou tanto assim. O jeito é se fazer uma leitura da história da política brasileira desde a sua origem, nos primórdios da república. Nada como ter a História na cabeça. História é memória. Memória e força e vida de um povo. E nossa memória parece fraquinha. A gente esquece rapidamente de coisas, talvez pelo excesso de pizzas. Vamos ficando gordinhos e felizes, fingindo que tudo vai bem.

A afirmativa do nosso Presidente sobre os senadores da oposição, embora algum desavisado não tenha percebido, é tal qual um tiro de misericórdia contra os parlamentares que gostam de criar CPIs. Com esse tiro, esses eleitos pelo povo poderiam se jogar no fundo do Ganges ou no fundo de um poço, a exemplo dos personagens hindus da novela Caminho das Índias, quando ficam em má situação. A afirmativa do Presidente certamente não foi auspiciosa e muito menos preciosa. Borrou mais um pouquinho o Congresso Nacional, já há algum tempo mergulhado em nuvens sombrias.

Um comentário:

LNRodrigues disse...

Que coisa, hem? E nosso presidente é bastante cara de pau nesta declaração. Fazer o quê? Temos que repensar em quem votar nas próximas eleições.