quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A ascensão da pobreza

O mês de agosto começou e eu não escrevi nada. Aguardava por uma notícia boa. Afinal, todos os dias, quando ligamos a tv ou o rádio, ou pegamos o jornal para ler, já sabemos o que veremos de noticiário. Violência, violência, violência em todas as modalidades.
Eis que ontem, dia 05, surge uma boa notícia. Que nós, no Brasil, estamos ficando menos pobres. Que a pobreza diminuiu nos principais grandes centros urbanos e que a classe média está aumentando. Passou da metade da população. E aí os especialistas no assunto e donos da pesquisa explicaram as razões de tantas melhorias sociais. Que agora tem gente ganhando mais o salário mínimo, com carteira assinada. Conseguiram sair daquela camada que vive com meio salário mínimo ou menos. O aumento do valor do salário mínimo também foi considerado importante para essa diminuição da pobreza no Brasil. Não tive outra alternativa a não ser ficar pasmo. Mas, como eu conheço muita gente que está bem acima da linha da pobreza e que afirma as coisas estarem melhorando, fico então sem palavras para contestar. Imagino que essas pessoas devem conhecer de perto como estão vivendo hoje os que já saíram do estado de miséria e agora são felizes com o salário mínimo ou talvez com aquela bolsa oriunda do projeto social que visa, digamos assim, os pobres, para não humilharmos mais ainda nossos muitos irmãos de solo pátrio.
Vendo o resultado da pesquisa, fiquei pensando como seria o viver com meio salário mínimo, se com o mínimo inteiro já é aquele drama. Disseram também que toda a melhoria aconteceu porque se reduziu o ganho de recursos por meio dos projetos sociais, ou seja, aumentou o número de pessoas que passou a ganhar o seu próprio dinheiro.
Mas até aí, tudo bem. De fato, para quem conseguia duzentos por mês, agora está ganhando quatrocentos, o ganho foi significativo. Afinal, tudo neste mundo é relativo. Gostaria de conhecer pelo menos uma pessoa que teve tamanha ascensão. Eu, sendo dessa classe média, que, conforme a pesquisa feita, também cresceu, queria aprender com algum desses que se tornaram menos pobres, como é que se faz para pagar aluguel, comida, material escolar, remédios, com o salário mínimo que agora passaram a ganhar. Poderia tentar aplicar os ensinamentos em minha vida mediana.
Agora, soltemos foguetes para a classe média, que agora superou a marca dos cinqüenta por cento da população brasileira, considerando-se as famílias que ganham entre mil e quatro mil e poucos reais. Desculpem-me os pesquisadores, mas vai aumentar o número dos endividados, dos que vão ficar pendurados nos cartões de crédito, contrariando toda a orientação dos economistas quanto ao uso indiscriminado deste. Crédito em excesso é veneno. Vai aumentar o número dos que terão acesso ao financiamento da casa própria, bem como à compra do primeiro carrinho. Em resumo, vai aumentar o contingente dos que compram um apartamento financiado em 20 anos e pagam quase um edifício todo ao final. O carrinho eles vão comprar, quem sabe, em módicas e suaves prestações por 60 ou 72 meses. Se o carrinho comprado já for usado, quando se conseguir desalienar o veículo, este já estará caindo aos pedaços. Mas, como disse antes, toda melhoria é relativa. Certamente há lugares piores no mundo.

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