Tantas fichas apostadas que se foram pelo ralo. De tanto amarelo, o Brasil amarelou. Voltou a seleção brasileira de futebol, quieta, calada, escondida pelos bastidores do Galeão e de Cumbica. Foi ainda aplaudida por uns e vaiada e xingada por outros. O técnico Dunga dançou, via Confederação Brasileira de Futebol – a CBF, mesmo com uma quase ligeira intenção de continuar à frente do futebol nacional para os próximos eventos internacionais. O Brasil que por muitos meses acreditou, acabou em choro. De nada adiantaram as mandingas positivas, as velas, as orações, a torcida ferrenha e passional do povo brasileiro. O desejo de alguns para a consecução de interesses. Depois da Holanda, a cerveja só serviu para o afogamento das mágoas e a tentativa de um esquecimento. Agora só resta esperar 2014, no Brasil, para o tão sonhado e desejado hexacampeonato mundial de futebol. Porém, que esse fervoroso patriotismo não tenha que esperar quatro anos para se manifestar novamente.
No meio da nuvem negra que se abateu sobre o Brasil, naquele início de tarde do dia 02 deste mês, um garotinho de Brasília, por volta dos seus 12 anos de idade, disse uma coisa correta, do alto de sua sabedoria infantil, durante uma ligeira entrevista a uma emissora de TV. Foi mais ou menos assim: “a seleção brasileira não pode ganhar sempre, um dia acontece de perder”.
Ora, isso mesmo. A cultura brasileira, secularmente passional em torno do futebol da terrinha, tem que aprender que, num dia, é chegada a hora de perder. Na verdade, aquele verso contido numa música criada por ocasião da primeira vitória do Brasil em Copa do Mundo, em 1958, disputada na Suécia, já ficou para trás no tempo e no espaço. Ela dizia logo de saída: “A Taça do Mundo é nossa, com brasileiro não há quem possa...”.
E assim, parece que, com essa música, foi injetada na cultura popular, a idéia da invencibilidade do nosso futebol diante do resto do mundo. Era a primeira vez que um país sul americano levantava a taça da Copa do Mundo em solo europeu. Posteriormente, em 1970, com outra vitória do Brasil na Copa do México, que o fez tricampeão e dono definitivo da taça Jules Rimet, outra música – o “Pra Frente Brasil”, criada no auge da ditadura militar, servia como alento no emocional do povo brasileiro. Com isso, o tempo foi passando e parece que não prestamos muita atenção às várias transformações por que passou o mundo (quantas vezes ele girou em torno de si mesmo e do sol), bem como parece que não observamos bem as imensas mudanças sofridas também pelo próprio futebol brasileiro e o internacional. Em resumo, a famosa globalização chegou, em decorrência dos avanços tecnológicos da comunicação mundial e nem vamos aqui mencionar os efeitos velozes da utilização da internet nos últimos anos. Do mesmo modo que nós, brasileiros, absorvemos inúmeros hábitos, comportamentos, modismos, bons ou ruins, oriundos de outros países, esses obviamente também absorveram coisas até então mais comuns de se ver e observar na comunidade latina americana.
E com o futebol não foi diferente. Do instante em que vencemos a Copa do Mundo pela primeira vez, com o futebol “raça” e muito mais patriótico do que os mais recentes, nossa fama de “País do Futebol” circulou pelo planeta. E, a partir de então, quem apenas acompanhou o desenrolar dos fatos ligados a esse esporte, pode deduzir o que veio acontecendo de lá para cá. As pessoas que mais entendem desse esporte têm que admitir que nossos melhores jogadores, que foram surgindo, logo passaram aos times internacionais, da Europa e de outras partes do mundo, por conta de contratos milionários. E assim, também nossos grandes técnicos desse esporte, também não resistiram aos convites do exterior. Não podemos esquecer quantos de nossos times nacionais faliram ou quase, nesse meio tempo, bem como dificuldades financeiras por que passaram. Não fica, pois, muito difícil compreender a evasão de profissionais do esporte para fora do Brasil. Até os Estados Unidos e o Japão, países sem tradição de futebol, passaram a figurar nos jogos da Copa do Mundo. Nada de se estranhar. E o troca troca, e as transformações mundiais que já falamos e por que passamos? Talvez, por tudo isso, atualmente, com brasileiro já há quem possa.
Mas, alguém poderia perguntar, a culpa por perdermos esta Copa na África do Sul seria por conta disso? Não exatamente. Não somente por conta disso, desse troca troca inevitável via globalização. A perda da conquista de um hexacampeonato nesta Copa não seria apenas por conta disso. Obviamente, há muito mais coisa envolvida nos bastidores desse esporte, até porque os jogadores convocados por Dunga são tidos e reconhecidos entre os melhores do futebol mundial.
Todavia, no futebol mundial há também inúmeras figuras ilustres e famosas por suas técnicas e desempenho em campo. Mais uma vez, efeitos da globalização. Globalização essa que envolveu, envolve e envolverá por muito tempo, vaidades, políticas inimagináveis ao torcedor comum. Muitos euros e dólares rolaram junto com as bolas em campo. A possibilidade de que o antigo futebol “arte” do Brasil tenha dado lugar ao bom futebol do “quem paga mais” ou do “quem dá mais”, não fica assim tão impossível. A raça de se jogar e a luta que se via pela camisa do Brasil, nas primeiras vitórias que tivemos em Copas do Mundo, parecem ter caído por terra. Patriotismo (risos)? Bem, a gente gosta do Brasil, mas viver feito rei em Madri, Barcelona, Milão ou noutro lugar do mundo, perdão, Brasil, mas deve ser bem melhor. Principalmente para quem teve um início de vida duro, em comunidades carentes por esse Brasil afora. Do mesmo modo, deve ser complicado formar uma verdadeira equipe de futebol, unida e disposta a lutar, no caso pelo Brasil, com tantas coisas, que nem conseguimos imaginar, passando pelas cabeças desses ídolos, que, na verdade, já são ídolos de espanhóis, italianos, árabes e de outras variadas nacionalidades.
Com tudo isso, pode nos restar um pequeno, mas talvez grande consolo. Que no atual futebol de outros países, devem acontecer coisas semelhantes. Ah, se pudéssemos mergulhar de cabeça nos bastidores da FIFA – Federação Internacional de Futebol. Afinal, além do fator globalização, lidamos com seres humanos, que, na essência, tem reações semelhantes sejam aqui, ali ou acolá, resguardadas apenas algumas diferenças culturais.
4 comentários:
É isso ai cumpadiiiiiiiiiii.
Foi o que disse a culpa é de quem?
A culpa é da seleção que perdeu?
Brasileiro só quer entrar pra ganhar.Perder,jamais.
Maradona e a seleção argentina foi recebida com festa.
Dunga e seleção com menosprezo ,com zombaria.Eita povinho mal educado viu.
Bjus
Bravo, amigo Marcos, bravíssimo!
Seu artigo levanta tantos detalhes esquecidos que torna-se impossível não refletir e finalmente não concordar. Disseste tudo, resta-nos aprender a perder, o que já será uma grande vitória.
Beijos.
IK
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